Toque de recolher, epidemias, proibições a cada esquina... Quem disse que a vida no Brasil Colônia era fácil?


Como alguns devem saber, Danação é um romance fantástico ambientado em 1700. Já falei (não demais) de folclore e volta e meia vou falar mais um pouco, mas hoje o tema é outro: como era a vida naqueles tempos. Ou, se preferirem, como era o Brasil que Diogo, a viúva Catarina e o escravo João enfrentavam.
Nessa época, era Deus ajuda quem cedo madruga ao pé da letra. Café da manhã, antes das cinco, almoço às dez e jantar às cinco da tarde. Até porque ninguém podia passear pelas ruas depois das oito da noite. Isso era crime, punido com uma semana de cadeia (as cadeias, por sinal, ficavam no mesmo prédio da Casa de Câmara, onde os vereadores se reuniam, só que no piso de baixo).
A vida era extremamente tediosa. Muito mais do que em qualquer cidade de interior hoje em dia. O ponto alto da semana eram as missa dominicais, quando as pessoas se encontravam. As festas religiosas, como Páscoa e Domingo de Ramos, aguardadas com ansiedade. Participar dessas festas era inclusive obrigatório, pois os militares aproveitavam o ajuntamento de pessoas para recrutar colonos à força. E guerra era algo que não faltava. Os portugueses estavam sempre lutando contra espanhóis que ameaçavam suas fronteiras ou com índios. Ou contra índios aliados de espanhóis, o que era pior. E se você escapasse de ser recrutado, sua mãe velha ou seu irmão novo iria preso.
Ao brasiliano e à brasiliana (brasileiro era quem vivia do pau-brasil), quase tudo era proibido: produzir sal, vender mulas, possuir tipografias ou ourivesarias, casar com juízes, alcançar posto militar acima de alferes (segundo-tenente). 
O que sobravam eram epidemias. Tifo, cólera, malária e algumas causadas pelas dietas deficientes, como escorbuto. Outras doenças, fruto da falta de higiene de nossos antepassados. Particularmente cruel era o maculo, ou corrução, uma infecção do ânus, que não raramente levava à necrose do reto. O tratamento? Enfiar no local uma bucha feita de pólvora, sal e pimenta. Pense...
Falando em limpeza, o colono não era lá muito asseado - herança europeia -, mas aprendeu com o índio o valor de um bom banho. Certo? Mais ou menos. Os selvagens se molhavam muito nos rios, o que é um pouco diferente de tomar banhos. E o colono fazia como os índios: esfregava o corpo com areia para tirar o excesso de sujeira. Sabão que é bom...
O melhor era não adoecer, até por que não havia médicos. A versão da época era chamada de físico, formada em faculdades europeias e disponível apenas aos muito ricos ou nobres. Durante os anos em que Salvador foi sede do vice-reinado, nunca houve mais que uma dúzia deles na cidade. Existiam também os cirurgiões, que auxiliavam os físicos e a quem era autorizado clinicar. O mais provável era que você fosse atendido por um barbeiro - acredite, o mesmo que fazia barbas - que ganhava um extra usando e abusando de sanguessugas, sangrias e ervas indígenas. Também não era aconselhável ter dor de dente. O paciente era embriagado (o clorofórmio só seria utilizado um século mais tarde) e o dentista cumpria seu ofício. Sabem como seus consultórios eram identificados? Pela banda de música na frente. Os bumbos e cornetas eram usados para abafar os gritos.
Hoje paro por aqui. Volto logo logo, com mais curiosidades sobre a vida dos nossos antepassados. Assunto é o que não falta...

0 comentários:

Postar um comentário

 
Folclore Fantástico © 2011 | Tema por Chica Blogger, Customizado por BoxDea